A asma está longe de controlada

Dr.ª Marianela Vaz

Apesar dos esforços dos especialistas a nível mundial, os estudos mais recentes mostram que o controlo da asma continua a ser deficiente. Existem para tal várias razões, como acentua a Dr.ª Marianela Vaz, imunoalergologista e presidente da Associação Portuguesa de Asmáticos (APA).
«Hoje conhecem-se os mecanismos da asma e a terapêutica mais adequada, existem guidelines internacionais para o seu tratamento de acordo com a gravidade, mas a asma está longe de controlada», reconhece a especialista. «Uma das razões reside no próprio doente. Como a gravidade da asma varia ao longo do tempo, o doente habitua-se a viver com restrições, com má qualidade de vida, e não se apercebe, muitas vezes, de que a sua doença não está controlada. Faz medicação para as crises, vai às Urgências quando está pior… Adapta-se a viver mal».
Actualmente, lembra a Dr.ª Marianela Vaz, considera-se que os asmáticos têm de ser envolvidos nos cuidados de saúde que lhes são prestados e, para isso, têm de ter competências para auto-avaliar e, até certo ponto, para autocontrolar a doença. Para auto-avaliar a asma precisam de ferramentas que objectivem o seu estado num determinado momento. «A avaliação funcional é muito importante – frisa a Dr.ª Marianela Vaz –, porque objectiva o grau de obstrução brônquica, através dos peak flow meters».
O autocontrolo insere-se numa estratégia de educação do asmático semelhante à da educação do diabético e, nesta área, a APA desenvolve acções, não só no foro médico, mas também para farmacêuticos, a fim de que possam ajudar os doentes, «porque são muito procurados pelos asmáticos; se tiverem alguma formação, e temos feito um esforço nesse sentido, com o apoio da ANF, podem ajudar-nos muito no controlo da doença asmática», pensa a Dr.ª Marianela Vaz.

Incumprimento das guidelines

O cumprimento das orientações terapêuticas está igualmente longe do desejável, desde logo por «culpa» do doente que, como repete a especialista, «não procura o médico e recorre às Urgências». Outra razão provém do facto de a asma estar subdiagnosticada em Portugal, «porque muitos doentes escapam ao controlo médico durante o período em que não têm crises», acrescenta, «e a asma é uma doença complexa, multifactorial, nem sempre é fácil controlar todos os factores desencadeantes». Por outro lado, diz ainda, «o tratamento envolve várias medicações simultaneamente, a maioria por via inalatória, e há dispositivos que não são muito fáceis de utilizar (também estamos a investir no ensino da utilização dos dispositivos para o doente poder ter os melhores resultados da terapêutica)».
Problema importante que a Dr.ª Marianela Vaz salienta é uma queixa de 80% dos doentes inquiridos: o preço dos medicamentos. «Muitos doentes não se tratam porque não têm capacidade económica para comprar a medicação», afirma. Por isso, a APA tem feito algumas diligências, «através das comissões em que estamos envolvidos, nomeadamente a Comissão de Controlo do Programa Nacional de Controlo da Asma, sedeada na DGS, com vista a sensibilizar o poder político para a necessidade de aumentar a comparticipação dos medicamentos comparticipados e de comparticipar os que não são comparticipados, mas, até agora, não obtivemos resposta». Em relação às associações medicamentosas que têm uma comparticipação muito baixa, a APA tem também feito muitas diligências – «no Dia Mundial da Asma, no ano passado, a Imprensa fez-se eco da nossa angústia», diz a médica, salientando uma evidência: «Os doentes com possibilidades económicas conseguem controlar muito melhor a sua asma».
Um instrumento muito prático

«O ACT é um instrumento muito prático, através do qual os doentes, ao preencherem o questionário, se podem aperceber de que a sua asma não está bem controlada», considera a Dr.ª Marianela Vaz; «é fácil de responder, e facilita muito o trabalho do médico, que passa a dispor, quando o doente vai à consulta, de uma informação sobre a evolução da doença».
Existem outros questionários em uso, «mas são mais complexos, e o médico tem de ajudar os doentes a preenchê-los», acentua a especialista. Em contraste, sublinha, «o ACT é muito simples, pode ser respondido com facilidade, e a soma dos pontos permite obter uma pontuação que indica se a asma está totalmente controlada, bem controlada ou não controlada. Há doentes que avaliam muito mal os seus sintomas, e por vezes ficam espantados ao verificar que, ao contrário do que pensavam, não têm a asma controlada».
No entender da Dr.ª Marianela Vaz, a aplicação do ACT favorece a ligação entre o médico e o doente, à luz de um conceito de educação do asmático semelhante ao da educação do diabético.