Asmáticos deprimidos têm maior reactividade simpática

As crianças asmáticas deprimidas manifestam maior reactividade simpática do sistema nervoso autónomo quando estão stressadas. Um estudo comparou crianças com asma e sintomas de depressão e crianças com asma, mas sem esses sintomas, levantando a hipótese de existir uma via através da qual o stresse e a depressão prejudicam a função pulmonar.

A experiência consistiu em colocar 171 asmáticos dos 7 aos 17 anos a ver o filme E.T., de Steven Spielberg, e medir continuamente, em laboratório, a reactividade simpática. A verdade é que os asmáticos deprimidos tiveram mais reactividade simpática durante a visualização da película, designadamente em cenas tristes (solidão, morte). Nas crianças deprimidas e com FEV abaixo de 80%, os sintomas depressivos encontravam-se, ainda, associados a uma maior resistência das vias aéreas.

Fontes:

http://www.jacionline.org/article/S0091-6749(09)00697-6/abstract 

 

Público

A asma  é uma doença com grande importância em termos pessoais e socio-económicos, dada a sua elevada prevalência (cerca de 1 milhão de doentes em Portugal), caracter crónico, interferência com a qualidade de vida dos doentes e  custos financeiros que acarreta .
Sendo actualmente uma doença controlável na maioria dos casos, é da maior importância alertar os asmáticos e os seus familiares para a necessidade de um diagnóstico precoce e da instituição do tratamento adequado a cada caso.

Isto só será possível com planos de educação permanentes dirigidos aos doentes, familiares, médicos de cuidados primários, outros profissionais de saúde e público em geral. A informação e o suporte prestados pelos profissionais de saúde são fundamentais, mas para se conseguir uma boa adesão da parte do doente é indispensável que esta informação  se acompanhe de níveis iguais de comunicação, papel que compete em grande parte às associações de doentes .

Alterações climáticas e alergias – epidemias preveníveis

Existem cada vez mais alergias!

É uma frase consensual. Fala-se, sente-se, conhece-se, demonstra-se. Um terço da nossa população sofre de doenças alérgicas. Asma, rinite, eczema, urticária, alergia a alimentos, a medicamentos, a insectos, são cada vez mais referidas e cada vez com maior gravidade. Algumas condições podem ser fatais.

E… a associação das doenças alérgicas é também muito frequente: a maioria dos asmáticos tem rinite alérgica e mais de um terço destes têm asma.

E… afecta a população de um modo transversal, desde a criança nos primeiros meses de vida até ao idoso

Muitos factores estão envolvidos na expressão das doenças alérgicas. As alterações climáticas também aqui fazem sentir a sua influência.

A acumulação dos gases que provocam o efeito de estufa, em especial relacionada com a utilização de combustíveis fósseis, provoca agressão directa no organismo humano, em particular na pele e nas mucosas, interface com o meio exterior. Mas condiciona também alterações no ciclo de vida das plantas – as épocas polínicas tendem a ser mais precoces e prolongadas, atingindo-se maiores concentrações atmosféricas de alergénios e, nas zonas mais poluídas, a interacção entre pólenes e poluentes condiciona maior agressividade dos alergénios, pois as alterações que ocorrem facilitam uma penetração mais profunda nas vias aéreas, estando estas já mais sensíveis devido ao efeito directo dos poluentes atmosféricos.

Também a exposição a insectos se tem vindo a modificar, em duração e qualidade, influenciando a distribuição de algumas doenças transmissíveis, mas justificando igualmente a ocorrência de maior número de reacções alérgicas a estes agentes, sendo estas também mais graves.

Aumento das concentrações de poluentes atmosféricos e aquecimento global, provavelmente são condições cíclicas. Mas a consciência sobre a sua ocorrência e implicações e, em particular, sobre a sua prevenção, só agora está intelectualmente acessível.

Por si, por nós, tentemos alterar a situação. O planeta merece-o.

Mas, no entretanto, que se melhore a qualidade de vida dos alérgicos, uma das situações de saúde epidémicas deste Século.

O diagnóstico está acessível mas não é habitualmente efectuado.

“Isso é uma alergia, isso passa”. Mas o “isso” tem nome: é asma, é rinite, é rinite e asma, é asma e eczema,…  E o “isso” com frequência não passa, pois é um problema frequentemente crónico, vem de há muitos anos, afecta-nos e à nossa família. E agrava, limita-nos. Não passa…

Procure ajuda e ajude. O controlo das situações alérgicas não é difícil, se existir diagnóstico, avaliação e educação. Evitar algumas exposições, promover alguns hábitos, usar alguns medicamentos, são a base de uma intervenção bem sucedida a um custo muito aceitável.

A falta de intervenção, quer no controlo das alterações climáticas, quer no controlo das doenças alérgicas, é que é claramente intolerável.

Asma, alergias respiratórias e exercício físico: perguntas frequentes.

Asma, alergias respiratórias e exercício físico


Na Primavera observa-se um pico de crises alérgicas. O que caracteriza os problemas alérgicos que se agravam nesta altura?

Os doentes alérgicos podem encontrar-se sensibilizados a vários alergénios, podendo os pólenes ser a única fonte alergénica. Desde o final do Inverno, continuando e predominando nos meses de Abril a Junho, estendendo-se de modo atenuado pelo Verão e Outono, os pólenes são libertados pelas múltiplas espécies vegetais existentes. Nesta altura do ano, correspondendo ao pico da época polínica, as concentrações dos pólenes são muito elevadas, sendo responsáveis por sintomas alérgicos, que podem ser muito perturbadores da qualidade de vida, desde crises de asma, queixas de rinite e/ou conjuntivite, a manifestações alérgicas da pele.

As alergias aos pólenes, são doenças que muitas vezes não estão diagnosticadas nem tratadas, apesar de serem problemas muito frequentes na população Portuguesa. A forma mais habitual de manifestação é a rinite alérgica, cujos sintomas são crises de espirros, prurido ou comichão nasal, corrimento nasal e obstrução ou congestão nasal, por vezes também tosse e irritação na garganta. Frequentemente estas queixas associam-se a conjuntivite alérgica, com prurido ocular, lacrimejo, olho vermelho e edema palpebral. A rinite é uma doença crónica que tem um importante impacto na qualidade de vida, interferindo com o bem-estar, com as actividades profissionais no caso dos adultos e escolares no caso das crianças, com a vida social e com as actividades diárias, podendo ser causa de má tolerância ao exercício e de perturbações significativas do sono. Os custos associados são substanciais, particularmente os indirectos. Pode ser causa de insucesso, profissional e escolar, por condicionar perturbações da capacidade de concentração, e mesmo absentismo, se não tratada adequadamente. Outro motivo, pelo qual o doente deve fazer o tratamento é pela prevenção de outras doenças que frequentemente se associam à rinite. É o caso da sinusite, que é uma complicação frequente da rinite não tratada. Assim como a otite média e a polipose nasal. A rinite associa-se ainda frequentemente à asma, sendo um factor de risco quer para o aparecimento, quer para a maior gravidade da doença. Cerca de 40% dos doentes com rinite têm asma e 80% dos doentes asmáticos têm rinite. O tratamento da rinite permite melhorar os sintomas da asma e pode prevenir o seu aparecimento. A confirmação do diagnóstico deverá ser efectuada por um médico especialista em Imunoalergologia, conjugando a história clínica com a realização dos testes de diagnóstico de alergia.

De ano para ano, existem variações, na época polínica principal, em relação à altura do ano em que ocorre o pico de maior intensidade, e em relação às concentrações observadas. E nos últimos anos os níveis polínicos têm sido muito altos. A explicação reside na influência de variáveis meteorológicas: a ocorrência de chuva (previamente à época polínica) condiciona fortes concentrações de pólenes quando a precipitação se interrompe, com os dias quentes e ventosos de Primavera; pelo contrário, um ano seco, como aconteceu hà alguns anos atrás, condiciona uma vaga polínica menos intensa, em particular das plantas mais sensíveis à falta de água, como as gramíneas.

Outros alergénios, existindo ao longo de todo o ano, são também nesta altura causa de alergia, tais como os ácaros do pó, os fungos e os animais de companhia; nestes casos, a Primavera é mais uma época do ano em que ocorrem os sintomas, frequentemente com mais intensidade.

Finalmente, nesta época do ano, também temos que contar com outros agentes que são capazes de desencadear reacções alérgicas muito graves, que podem até ser fatais, embora felizmente com uma frequência mais reduzida: é o caso da alergia a veneno de insectos, como as abelhas ou as vespas.

E são apenas alergias respiratórias ou podem incluir-se outras, por exemplo, a alimentos?

A sensibilização a um alergénio inalado, como os pólenes, que atingem altas concentrações na Primavera, pode ser causa de alergia alimentar. O que explica este fenómeno é a possibilidade de reactividade cruzada, entre proteínas distintas, que podem pertencer a plantas de origens muito diferentes, mas que por apresentarem uma estrutura semelhante vão ser reconhecidas pelo mesmo anticorpo. Nos indivíduos com alergia aos pólenes, existe a possibilidade de ocorrência de reactividade cruzada entre proteínas existentes no grão de pólen, a que os doentes se sensibilizam por via inalatória, com proteínas semelhantes existentes em alimentos de origem vegetal. O resultado é o possível aparecimento de uma alergia alimentar, a frutos e/ou legumes, em doentes com alergia a pólenes, a que se denomina síndrome pólenes-frutos.

A manifestação clínica mais frequente desta síndrome é uma forma de alergia oral, que se caracteriza pelo aparecimento de edema (inchaço), comichão e/ou formigueiro dos lábios, boca e garganta, quando o fruto contacta com a mucosa oral do indivíduo alérgico. Contudo, alguns doentes podem desenvolver reacções mais graves como urticária, asma e, inclusivamente, choque anafiláctico. E estas queixas podem ser mais graves durante a estação polínica. O diagnóstico deve ser efectuado em consulta com médico especialista em Imunoalergologia.

Os pólenes mais implicados são os das gramíneas, tanchagem, artemísia, ambrósia e bétula. Os frutos mais frequentemente envolvidos são os pertencentes às famílias Rosaceae, tais como pêssego, maçã, pêra, ameixa, cereja e alperce, e Cucurbitaceae, que inclui frutos como melão e melancia e legumes como abóbora e pepino.

Não relacionados com a Primavera, outros exemplos clássicos de reactividade cruzada entre alergénios inalados e alimentares são, a alergia a mariscos em doentes alérgicos ao pó (síndrome ácaros-mariscos) e a alergia a frutos e outros vegetais em doentes alérgicos à borracha (síndrome látex-frutos).

Que relação existe entre o exercício físico e as alergias respiratórias? Em que medida pode a prática de exercício físico contribuir para as agravar? E para as melhorar?

Os doentes alérgicos, nomeadamente com asma, devem ser encorajados a praticar desporto, devendo ser recomendadas as medidas que permitem a sua plena integração nas actividades individuais ou de grupo que pretendam efectuar, incluindo indicações sobre como prevenir as queixas durante a prática do exercício.

Já os doentes com rinite alérgica sentem habitualmente as suas queixas melhoradas com a prática do exercício, o que se relaciona com diferenças de inervação das vias aéreas superiores e inferiores, pelo que nestes casos a prática de desportos não é problemática. Se coexiste asma e rinite, então é o controlo da asma que permite uma actividade sem restrições significativas.

No passado era comum pensar-se que uma pessoa com alergia, particularmente com asma, não deveria praticar desporto. Hoje sabe-se que é necessário desmistificar este conceito, e que o asmático, cumprindo um plano adequado de controlo da doença feito pelo seu médico, pode e deve participar em desportos ou outra actividade física, quer sejam aulas de educação física, desportos de lazer ou de alta competição.

Os cuidados a ter, devem iniciar-se com o seguimento médico adequado, existindo actualmente medicamentos que conseguem controlar e prevenir as queixas desencadeadas pelo exercício físico. Algumas medidas não farmacológicas têm-se revelado benéficas no atenuar das queixas: efectuar exercícios de “aquecimento” prévios; adoptar preferencialmente uma respiração nasal, permitindo maior aquecimento e humidificação do ar; evitar fazer exercício em ambientes frios e secos; evitar os irritantes, como o fumo do tabaco e outros poluentes.

Alguns cuidados específicos, deverão ser acrescentados, para os doentes alérgicos aos pólenes, neste caso seja com asma e/ou com rinite alérgica: evitar (ou pelo menos reduzir) a prática do desporto em ambiente exterior, preferindo recintos fechados, nos períodos de maior concentração de pólenes no ar, para o que deverá estar atento ao boletim polínico (www.spaic.pt); evitar sobretudo os dias quentes e ventosos, em que as concentrações polínicas são maiores; evitar os treinos durante a manhã, altura em que os níveis de pólen no ar são mais elevados; evitar locais com maior poluição, nomeadamente com maior tráfego automóvel.

Que modalidades ou tipos de exercício são recomendáveis? Quais estão desaconselhados ou contra-indicados?

As modalidades mais aconselhadas para os asmáticos, em qualquer grupo etário, serão aquelas que proporcionem exercícios do tipo aeróbio e dinâmico, de modo a treinar a hiperventilação e músculos respiratórios, em atmosfera não fria e seca, evitando o arrefecimento e desidratação da mucosa brônquica e o consequente desencadear da fisiopatologia da asma induzida pelo exercício.

Assim, os desportos de menor risco de AIE e mais frequentemente aconselhados são as modalidades aquáticas, em particular a natação em piscina coberta, na medida em que proporciona exercícios de duração não asmogénica, tipo aeróbio e dinâmico, permite treinar a hiperventilação e os músculos respiratórios, a posição horizontal mobiliza a expulsão do muco e é exercido em atmosfera húmida e quente, evitando o arrefecimento e desidratação da mucosa brônquica e consequente broncoconstrição. No entanto, recentemente tem assumido crescente atenção a presença de altos níveis de cloro e a sua acção de irritante inespecífico das vias áreas, bem como a presença de fungos nos balneários e outras áreas de uso comum integradas nos complexos de piscinas.

O ténis ou modalidades de equipa (particularmente voleibol e basquetebol), desportos intermitentes, que alternam fases aeróbicas e não aeróbicas e períodos curtos de exercício contínuo (menos de 5 a 8 min), com intervalos, consideram-se de risco médio para broncospasmo. Modalidades que não requerem altos níveis de hiperventilação, como esgrima ou ginástica rítmica têm-se como de baixo-médio risco.

Os desportos mais vulneráveis são as disciplinas de longa distância, com treinos contínuos e ao ar-livre ou frio, como o ciclismo e os desportos de Inverno, sendo a corrida de atletismo classicamente considerada a disciplina de maior risco para Asma Induzida pelo Exercício. Refira-se ainda a existência de restrições (mas não proibição) impostas ao doente asmático à prática de algumas modalidades, tais como as relacionadas com actividades subaquáticas, como o mergulho, e actividades de alta altitude como escalada ou montanhismo.

Não esquecer, como regra, que se o asmático tem um desporto que de facto aprecia, a sua prática deverá ser encorajada, pois, desde que controlado, poderá fazer qualquer exercício ao mesmo nível do não asmático. De facto existem muitos atletas asmáticos, campeões olímpicos, como a corredora Rosa Mota. No entanto, se o pedido de aconselhamento coincidir com o iniciar da sua vida desportiva, deve-se encorajar a prática de certos desportos mais compatíveis, como referido, por serem mais bem tolerados e por isso proporcionarem melhor oportunidade de participação com sucesso.

Com que regularidade e nível de intensidade poderá ou deverá o asmático praticar exercício?
A prática deve ser regular, enquadrada no padrão / hábitos / estilo de vida do asmático e da sua família / conviventes. Andar é uma prática que deve ser diária. Respirar fundo é um excelente exercício que se pode e deve fazer várias vezes ao dia em diversos locais. Práticas que impliquem deslocações a instalações específicas devem ser feitas 2 a 3 vezes por semana.

A intensidade deve ser a que proporciona bem-estar físico e psíquico ao praticante, contribuindo para alcançar um adequado estado de saúde, totalmente diferente se é uma prática recreativa ou profissional…

Que cuidados específicos relacionados com as alergias deve adotar antes, durante e após a prática (a nível de alimentação, medicação, repouso, aquecimento ou alongamentos, outros relevantes)?

No caso dos asmáticos, se a prática do exercício favorece o próprio controlo da doença, pelo melhor condicionamento físico que se obtém, nomeadamente muscular, pela prevenção da obesidade / excesso de peso, pela progressiva maior tolerância ao esforço, pela auto-confiança que possibilita… a prevenção da agudização da asma pelo próprio esforço deve ser algo prioritário. Para tal, é fundamental conseguir o melhor controlo terapêutico da doença asmática e, particularmente, da inflamação brônquica crónica que lhe está subjacente. Uma terapêutica preventiva de controlo pode estar indicada e em algumas situações a prática de exercício deve ser precedida da inalação de fármacos broncodilatadores. Mas tudo isto sob controlo médico…

Necessariamente, os programas de treino e as medidas de condicionamento das variáveis físicas associadas ao exercício, têm um papel fundamental na atenuação da resposta broncoconstritora ao exercício. Como referido deve dar-se preferência ao tipo de treino aeróbico e dinâmico, que permite melhorar o período de broncodilatação pós-exercício e controlar a hiperventilação. Poderão ser úteis períodos de aquecimento constituídos por múltiplos sprints (duração de 30 segundos), com 2 minutos de intervalo, realizados 30 minutos antes de um exercício prolongado, o que permitirá aproveitar o período refractário, isto é, uma fase em que após uma redução inicial da função respiratória as quedas da mesma praticamente não ocorrem. A mesma protecção poderá ser alcançada com a prática de um período de aquecimento contínuo de cerca de 15 minutos, mas em intensidade submáxima, de até 60% da capacidade aeróbica.

Em que situações está o treino contra-indicado ou deve ser interrompido?

Sempre que a doença alérgica de base, nomeadamente a asma, não se encontre controlada (como pode ocorrer por exemplo após uma infecção respiratória ou se a medicação preventiva não está a ser cumprida,…), ou se surgirem sintomas significativos durante o treino.

É bom reforçar que mesmo durante uma fase em que a doença se encontre controlada, o asmático deve ter consigo a medicação de alívio sintomático, nomeadamente um broncodilatador de curta acção para uso inalatório. É também fundamental que os treinadores / PTs / colegas conheçam a situação clínica do alérgico / asmático.

A prática de exercício físico pode fazer despoletar um choque anafilático? Se sim, em que casos? É uma situação comum?
Sim, mas não é no entanto uma situação comum. Seguimos vários casos, nomeadamente em que a anafilaxia relacionada com o exercício está dependente da ingestão de alguns alimentos.

O exercício particularmente intenso pode originar anafilaxia, podendo relacionar-se com a toma de medicamentos anti-inflamatórios não esteróides, mas em cerca de metade dos casos esta situação só ocorre se houver ingestão prévia de alimentos específicos (anafilaxia induzida por exercício dependente de alimentos). Vários alimentos têm sido incriminados. Mais raramente, alguns doentes têm anafilaxia quando praticam exercício após ingestão de qualquer tipo de alimento.

Para além de não deverem ingerir medicamentos / alimentos que se relacionaram com sintomas prévios, antes da prática do exercício (no caso dos alimentos até 6 horas), estes doentes devem ser portadores de um dispositivo (“caneta”) para auto-injecção de adrenalina.

Que cuidados podem ser adotados para prevenir um choque anafilático originado pelo exercício? Que sinais/sintomas podem denunciar esta situação? O que deve o doente fazer no momento, se perceber que tal está a acontecer?

A primeira descrição de anafilaxia induzida pelo exercício (AnIE) data de 1979, altura em que Maulitz publicou o caso de uma atleta de corrida de fundo com reacções anafilácticas recorrentes sempre que a prática desportiva coincidia com a ingestão prévia de crustáceos. A síndrome clássica caracteriza-se pelo desenvolvimento de uma reacção sistémica grave, desencadeada pelo exercício físico, que ocorre habitualmente durante os primeiros 30 minutos após o início da actividade física. Tipicamente é precedida de sintomas prodrómicos – sensação de calor, prurido cutâneo e eritema – com rápida evolução para anafilaxia se o exercício é continuado, com queixas cutâneas, respiratórias, gastrintestinais e/ou cardiovasculares, ocorrendo edema laríngeo em metade e colapso cardiovascular em cerca de um terço dos doentes. Como referido, em 15% dos casos poderá estar relacionada com terapêutica com anti-inflamatórios.

A AnIE pode ser desencadeada pela prática de qualquer tipo de actividade desportiva, associando-se com maior frequência a exercícios aeróbicos prolongados como a corrida, o futebol e a dança, podendo ser reproduzida em ambiente hospitalar através da realização de uma prova de esforço.

A anafilaxia induzida por exercício dependente de alimentos (AIEDA) constitui um subtipo de AIE, responsável por mais de metade destes quadros, em que a reacção anafiláctica ocorre durante o exercício apenas quando precedido pela ingestão de um ou mais alimentos. Desde o primeiro caso reportado, numerosos alimentos têm sido incriminados, destacando-se os cereais (sendo o trigo o alimento mais frequentemente associado), os frutos secos, os crustáceos, os vegetais (ex. tomate), os frutos frescos (ex. maçã, pêssego), o leite de vaca e o ovo.

Na maioria dos casos de AIEDA os episódios são desencadeados pelo exercício após ingestão prévia de alimentos específicos. Alguns doentes têm anafilaxia quando praticam exercício após ingestão de qualquer tipo de alimento. A quantidade de alimento pode ter influência para o aparecimento dos sintomas, existindo casos em que é necessária a ingestão simultânea de alimentos diferentes para induzir a reacção anafiláctica.

A prevenção específica, após diagnóstico etiológico da anafilaxia relacionada com o exercício, baseia-se essencialmente na evicção do estímulo causador da anafilaxia: alergénio implicado (alimento, fármaco ou látex), frio, exercício ou alimento específico até 6 horas antes do exercício. A educação do doente, família e contactos é imprescindível para que esta evicção seja eficaz.

A prática física deve ser sempre feita acompanhada, devendo o alérgico ser portador de identificativo (cartão, pulseira ou colar) da sua situação clínica. Deve ser fornecido ao doente um plano escrito sobre a actuação de emergência em caso de anafilaxia, que pode justificar a assistência imediata num serviço de urgência. No caso da criança, este plano deve também ser fornecido à escola. No plano deve constar o diagnóstico, a descrição dos sintomas possíveis e a atitude terapêutica adaptada caso a caso, bem como a identificação dos contactos de emergência e médico assistente. O plano de emergência deverá incluir instruções ilustradas relativamente à utilização da adrenalina auto-injectável.

Devem suspender imediatamente a actividade perante quaisquer sintomas prodrómicos e devem ser portadores de dispositivo para auto-administração de adrenalina. Nenhuma pré-medicação ou fase prévia de aquecimento é eficaz na prevenção da anafilaxia relacionada com o esforço físico pelo que não deve ser recomendada.

Quais os principais erros que quem sofre de alergias respiratórias deve evitar quanto à forma de encarar ou praticar exercício físico?

Erros:

Pensar que…

…não pode praticar exercício;

…pode praticar exercício se a doença não estiver controlada;

…os medicamentos para o controlo da doença alérgica são perigosos;

…a prática de exercício física não é importante para o controlo da doença alérgica.

…um asmático / alérgico não pode ser um campeão, quer na vida, quer nas Olimpiadas…

Posso tomar a medicação para a asma e participar em desportos de competição?

Posso tomar a medicação para a asma e participar em desportos de competição?

Sim. A maioria da medicação usada para a asma é permitida nos desportos de competição. Geralmente o uso de tratamento anti-inflamatório inalado e de alguns broncodilatadores é permitido, mas os corticosteróides sistémicos são proibidos.

Verifique com o seu médico ou com a federação nacional (sobretudo se compete a nível internacional) se a sua medicação é permitida pelo código antidopagem. Nalguns casos, pode precisar de um certificado do seu médico, que deverá ser enviado à comissão nacional antidopagem, para poder fazer a medicação.

Tratamento para a asma na gravidez – sim ou não?

Tratamento para a asma na gravidez – sim ou não?

 Tem asma e está grávida… e agora? A asma é a doença crónica mais comum na gravidez, atingindo entre 3,4 a 12% das futuras mães. Estudos demonstram que existe uma grande probabilidade de o estado da doença se alterar com a gravidez. Cerca de um terço das mulheres piora quando engravida, sobretudo se já possui um quadro de asma moderado a grave; um terço melhora e o restante terço mantém a sua condição estável ao longo de toda a gravidez. A possível alteração do estado da asma na gravidez deve justificar uma visita da grávida a um especialista em asma, dado que a vigilância médica deve ser mais cuidada. Há vários factores que podem contribuir de forma positiva ou negativa para a alteração do estado da asma na gravidez. Esses factores são, normalmente, bastante particulares, pelo que é quase impossível prever qual vai ser a evolução do estado de uma asmática após engravidar. Substâncias como a progesterona podem favorecer a situação clínica da asmática, já que esta hormona possui propriedades broncodilatadoras, que “abrem” as vias aéreas e facilitam a respiração. Também o aumento dos níveis de cortisol, comum na gravidez, oferece protecção contra a inflamação das vias respiratórias causada por alergénios. Por outro lado, há outras substâncias que prejudicam o desempenho das vias aéreas, aumentando a probabilidade de haver uma crise de asma. O stress resultante das inúmeras mudanças que a gravidez acarreta pode também contribuir para uma evolução negativa da asma na grávida. Porque deve continuar com a medicação? Analisando prós e contras Quando engravida, um grande número de mulheres tende a abdicar da medicação para a asma. Cerca de 23% pára de tomar os corticosteróides inalados, 13% abdica da toma dos agonistas de curta acção e 54% deixa de tomar os corticosteróides para alívio rápido das crises de asma. Por sua iniciativa ou mal aconselhadas pelo médico, as grávidas justificam a cessação terapêutica com o medo de que os fármacos tenham efeitos negativos no feto. No entanto, estas mulheres desconhecem que várias investigações demonstram claramente que, no caso de uma grávida ser asmática, a principal ameaça para o seu bem-estar e o bem-estar da sua criança é a falta de controlo sobre a asma, sobretudo quando se trata de um caso de asma grave. As crises de asma na gravidez ocorrem com maior frequência entre as 24 e as 36 semanas de gestação. As infecções respiratórias parecem ser as principais causadoras das crises agudas de asma nas mulheres grávidas (34%), logo seguidas pela não adesão aos cortiscosteróides inalados (29%). A asma não controlada, especialmente quando resulta numa crise, gera um decréscimo significativo do oxigénio que circula no sangue da grávida. A diminuição do nível de oxigénio na corrente sanguínea da mãe leva a que o feto não receba a quantidade de oxigénio de que necessita, o que compromete o seu desenvolvimento, crescimento e poderá mesmo ameaçar a sua vida (o que só acontece em casos extremos). Alguns trabalhos de investigação demonstram que a asma não controlada por parte da mãe aumenta o risco de parto prematuro e do bebé ter um peso abaixo da média quando nasce. A probabilidade de existir restrições de crescimento intra-uterino é maior no caso de ter havido episódios de crises asmáticas durante a gravidez. Outros autores notam que existem mais casos em que é necessário recorrer a uma cesariana entre as mulheres com a doença não controlada.  Em suma, resultados de estudos distintos apontam no mesmo sentido: a asma grave, quando associada a falta de controlo da doença, está associada a resultados piores na gravidez, com consequências negativas para o feto. Assim sendo, as mulheres asmáticas grávidas devem tomar medicação para controlar a doença e ter consigo fármacos de alívio rápido dos sintomas, para a eventualidade de terem uma crise. Os planos terapêuticos devem ser optimizados para assegurar um controlo absoluto do estado clínico da grávida. Mais do que nunca, devem ter o máximo cuidado com a exposição a alergénios, adoptando políticas rigorosas de evicção alérgica dentro e fora de cada. Na eventualidade de haver uma crise, as medidas de tratamento devem ser agressivas, pois é importante que a grávida normalize rapidamente, para não restringir a quantidade de oxigénio que chega ao feto. Infelizmente, alguns estudos evidenciam que, quando têm uma crise, as mulheres grávidas não são tratadas de forma tão eficaz como poderiam e deveriam. Segundo um trabalho de investigação, quando comparadas com mulheres com asma não grávidas, verifica-se que as grávidas com asma recebem menos cortiscosteróides, sobretudo no momento da alta. Ou seja, os médicos que atendem estas mulheres no Serviço de Urgência receiam receitar estas substâncias na gravidez. O mesmo trabalho demonstra que estas mulheres, subtratadas, têm uma probabilidade 3 vezes superior de voltar a ter um episódio de asma aguda a curto prazo. Porque parar de tomar a medicação? Desmistificando os medos… Afinal, há medo de quê? Embora exista o mito de que a medicação pode afectar a criança, apenas uma pequena percentagem dos agentes activos (10%) chega ao feto. Os restantes 90% são metabolizados pela placenta.   É de conhecimento geral que os cortiscosteróides usados por via oral, quando usados muito frequentemente e em quantidades muito elevadas, têm efeitos secundários sérios. Estes efeitos negativos já são despreziveis quando os corticóides por via oral são tomados apenas durante poucos dias. Está também comprovado que o uso adequado destas substâncias por via inalatória, em quantidades centenas de vezes menores, não acarreta problemas para a saúde e constituem uma terapêutica eficaz. Assim, não há motivos para parar de tomar a medicação quando se engravida, desde que se cumpram as recomendações do médico.  Relativamente aos cortiscosteróides orais tomados na gravidez, na mãe, podem aumentar o risco de infecção e a intolerância à glucose e provocar diabetes gestacional. Alguns estudos relacionaram a toma de cortiscosteróides orais com um aumento do risco de hipertensão e pré-eclampsia. Contudo, tendo em conta as consequências adversas resultantes da ausência da medicação se esta for necessária, o uso de cortiscosteróides orais continua a ser clinicamente recomendado. É que a probabilidade destes fármacos desencadearem efeitos secundários é muito baixa. Pesados os prós e os contras da toma de corticosteróides, os especialistas nesta área não têm dúvidas: tomar a medicação é o procedimento mais seguro para a mãe e para o feto. Outras complicações fetais como lábio lepurino ou fenda no palato aparecem pontualmente relatadas em associação ao consumo de certos fármacos por via oral para o controlo da asma durante o primeiro trimestre da gravidez. Mas analisemos dados concretos: as investigações concluíram que o risco destes problemas ocorrerem é apenas de 0,3 a 0,4% superiores ao risco existente em qualquer gravidez sem qualquer medicação. Valerá a pena arriscar o pleno desenvolvimento e até a vida do seu bebé (que poderá ser afectado com uma crise durante os 9 meses de gravidez e de abstenção de medicação) tendo como justificação uma hipótese tão remota? Os agonistas de curta e longa acção e os cortiscosteróides inalados são seguros, podendo ser usados com toda a tranquilidade na gravidez. Outros fármacos mais agressivos são utilizados com maior reserva e com maior necessidade de vigilância médica contínua. Mas o seu médico especialista pode aconselhá-la, tendo sempre em vista o seu bem-estar e o bem-estar da criança. É normal que a grávida tenha uma grande preocupação com o bem-estar do seu bebé e é natural que queira conhecer todas as opções, todos os riscos e todas as consequências para o feto que advêm do seu comportamento. Mas não devem ser vencidas por medos infundamentados nem deixar que certos mitos as desviem das decisões mais sensatas. No caso de estar grávida e ser asmática deve consultar um especialista. Fale com o médico e discuta as vantagens e desvantagens de tomar a medicação. O médico não lhe receitará nada que afecte a saúde da sua criança, por isso, se for aconselhada a continuar a medicação, esteja tranquila. Todas as recomendações e provas científicas vão nesse sentido. Fonte:   http://www.aaaai.org/patients/publicedmat/tips/asthmaandpregnancy.stmhttp://thorax.bmj.com/cgi/content/full/56/4/325

 

A asma pode acarretar complicações?

A asma pode acarretar complicações?

Algumas pessoas concentram-se tanto nos efeitos indesejáveis da medicação que se esquecem dos efeitos que a asma mal controlada pode ter. Além do risco de morte (felizmente pequeno), existe também o risco da função pulmonar se deteriorar ao longo dos anos, tornando-se uma incapacidade permanente. As crianças com asma mal controlada não crescem adequadamente e as grávidas com asma mal controlada têm um maior risco de complicações, p.e., atraso do crescimento intra-uterino e morte fetal.

Que clima é melhor para um asmático?

Que clima é melhor para um asmático?

Não existe um clima específico ideal para os asmáticos, dado que existem demasiados factores desencadeantes que diferem de pessoa para pessoa. Se mudar para outra região, as características do meio ambiente podem levar a um agravamento ou melhoria da sua asma. Os níveis de alergénios são menores nas zonas de elevada altitude e tal facto pode ser benéfico nos doentes alérgicos a pólenes ou ácaros.

Isoflavona reduz inflamação

A genisteína, uma isoflavona de soja ajuda a reduzir os sintomas da asma. A revelação é feita por um estudo publicado no Clinical & Experimental Allergy.

Segundo os autores, a suplementação com genisteína durante 4 semanas pode suprimir o processo inflamatório e facilitar a respiração, reduzindo a gravidade da doença.

As melhorias foram medidas através da análise dos eosinófilos LTC4 positivos, células do sangue que indicam a existência de inflamação. Nos indivíduos tratados, houve uma redução de 33% na produção de LTC4. Do mesmo modo, registou-se uma redução na fracção exalada de óxido nítrico (FENO) de 17%.

Alguns estudos epidemiológicos já haviam associado um elevado consumo de isoflavona à saúde respiratória. Os mecanismos moleculares, esses, continuam por desvendar.

“Estes resultados constituem a base para investigações clínicas futuras acerca da suplementação dietética com isoflavonas de soja, como uma estratégia para melhorar a asma e outras doenças mediadas por eosinófilos ou leucotrienos”, indicam os investigadores.

 

Fontes:
http://www.blackwell-synergy.com/doi/abs/10.1111/j.1365-2222.2007.02862.x