Asma, esteróides e ossos

A minha filha, hoje com 10 anos de idade, tem necessidade de tomar periodicamente corticosteróides para prevenir as crises de asma. A doença foi-lhe diagnosticada quando tinha apenas cinco anos. O médico disse-me que é preciso controlar a asma, mas eu ouvi dizer que os corticosteróides fazem mal aos ossos. É verdade?

Todos os medicamentos têm efeitos secundários. Os corticosteróides não são excepção. No entanto, os efeitos laterais dos medicamentos devem ser vistos como um mal menor.

Para começar, a asma mal controlada pode ser um risco para a saúde e até para a vida de crianças e adultos. Dependendo da gravidade da doença, os sintomas podem ser tão incapacitantes a ponto de atirar o doente para uma urgência do hospital, onde certamente terá de ser medicado. No fundo, apenas se adia a administração da medicação, mas não se consegue evitar. Além disso a medicação urgente é administrada em quantidades muito grandes num período curto de tempo, o que ainda será pior…

Pelo caminho, as exacerbações de asma vão deixando as suas marcas, quer a nível físico, quer psicológico, quer social. Está provado que as crianças com a asma mal controlada faltam mais vezes à escola, podem ser mais ansiosas e deprimidas ou ter menos auto-estima.

Quanto aos tão propalados efeitos dos corticosteróides nos ossos, um estudo recentemente publicado no Pediatrics, uma das publicações mais conceituadas na área da Pediatria, veio revelar que a administração diária de corticosteróides inalados em baixas doses faz baixar ligeiramente a densidade mineral óssea nos rapazes, mas todos mantiveram-se dentro dos níveis normais. Nas raparigas, não houve qualquer efeito.

O risco está, sobretudo, na administração por via oral. Assim, embora os corticosteróides inalados possam reduzir um pouco a densidade mineral óssea nos adolescentes, o risco de osteopenia é largamente compensado pelo facto de permitirem reduzir a quantidade de corticosteróides orais durante a infância, estes sim com efeitos mais vincados sobre os ossos.

Por outras palavras, os corticosteróides inalados não só previnem os ataques de asma como podem reduzir a necessidade de recorrer a corticosteróides orais, prevenindo, assim, uma efectiva redução da densidade mineral óssea no futuro.

De referir que este estudo seguiu, durante sete anos, 531 rapazes e 346 raparigas com asma ligeira a moderada e idades compreendidas, à partida, entre os 5 e os 12 anos.

A grande mensagem é: a medicação de prevenção é importante, não apenas hoje, no sentido de reduzir a probabilidade de uma crise, mas também no futuro, no sentido em que evitar medicações mais “pesadas”.

Se ainda ficou com dúvidas, fale com o seu médico.

Fontes:

http://pediatrics.aappublications.org/cgi/content/abstract