O diagnóstico de asma continua a aumentar em Portugal, designadamente em idades pediátricas. Ainda assim, os especialistas admitem que a doença está subdiagnosticada. O tratamento também deixa algo a desejar. Apesar da subida com as despesas em medicamentos, mais de 60% dos doentes dizem que não têm a asma controlada.
Mais de 40% dos portugueses têm sintomas respiratórios significativos. As queixas alérgicas atingem cerca de um quarto da população. Os números são do Observatório Nacional das Doenças Respiratórias (ONDR) e da Associação Nacional de Tuberculose e Doenças Respiratórias (ANTDR). O rastreio foi efectuado em Lisboa, Cascais, Vila Nova de Gaia e Coimbra, por ocasião do Mês do Pulmão.
Cerca de 14% dos portugueses submetidos ao rastreio sofriam de asma e cerca de metade dos doentes com asma sofriam também de rinite alérgica. Mais de 50% dos inquiridos referiam queixas respiratórias, nomeadamente tosse crónica, pieira e dispneia (falta de ar).
Este rastreio revelou, também, que 26% dos inquiridos sofriam de rinite alérgica e 9,4% tinham síndromes obstrutivos, o que apontava para a existência de doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), embora só 7,3% referissem sofrer da doença. Só 27% das pessoas rastreadas haviam sido vacinadas contra a gripe. Outros dados curiosos apontam para uma taxa de 16% de pneumonia e 4% de tuberculose.
Os indivíduos que participaram neste rastreio, 812 homens (43%) e 1086 mulheres (57%) com uma idade média de 47 anos, foram submetidos a vários exames, como a espirometria (provas de função respiratória).
Estes resultados têm de ser interpretados com cuidado pois não representam a população em geral mas sim quem quis fazer o rastreio, no entanto estão globalmente de acordo com outros dados disponíveis em Portugal.
Mortalidade por asma desce “de forma clara e consistente”
De acordo com o Relatório do Observatório Nacional das Doenças Respiratórias (ONDR) de 2007, a asma estará subdiagnosticada em Portugal. O European Community Respiratory Survey (ECRHS) apontava para uma prevalência de 4,5%, mas o facto de mais de 20% dos inquiridos referirem sibilância no último ano sugeria uma provável situação de subdiagnóstico da doença.
No estudo ISAAC sobre a asma em idade pediátrica, a prevalência de asma atingia os 12,8% em 1994/95 e de 15,7% em 2000/2001, o que representa um aumento de 23%. A justificação residirá, pelo menos em parte, nas alterações ambientais.
Quanto à mortalidade por asma, diz o Observatório, tem vindo a descer de forma “clara e consistente”, algo que terá a ver com a introdução de medicamentos mais eficazes e seguros e com um maior controlo dos doentes.
Segundo o Instituto Nacional de Estatística, em 1994 morreram 281 pessoas devido à asma (2,8% da mortalidade total), das quais 153 do sexo masculino. Em 2004, foram 111, ou seja, 1, 05% do total, das quais a maioria era do sexo feminino. Na esmagadora maioria dos casos, as vítimas tinham mais de 65 anos, o que poderá ser explicado pelas comorbilidades características do mais idosos, designadamente DPOC concomitante. Abaixo dos 15 anos, a mortalidade por asma não ultrapassou 1% do total.
Há alguma região onde o risco de morte por asma seja maior? Parece que sim. Segundo os dados do Observatório, a região do Algarve é aquela que regista maior número de mortes por essa causa, enquanto o Norte é o que regista a taxa mais baixa.
Quem analisa os dados de 1995 a 2006 apercebe-se facilmente de uma tendência para uma redução do número de internamentos por asma. Em 1994, ultrapassaram os 5 mil. Já em 2006 rondaram os 3.300. No entanto, de 2005 para 2006, houve um aumento desses internamentos em todo o país, mais acentuado no Centro e no Alentejo. As razões estão por apurar.
Curiosamente, os internamentos por asma são mais frequentes nos grupos etários mais jovens, entre os 0 e os 14 anos de idade.
As doenças respiratórias, com a pneumonia à cabeça, representam 14% dos internamentos nas especialidades médicas (não cirúrgicas) em hospitais portugueses, sendo a média de internamento de 10,5 dias (superior à média, que rondou os 7 dias). No total, as doenças respiratórias foram responsáveis por 865 mil dias de internamento. Cerca de 15% destes doentes acabariam por falecer.
As mortes por doenças respiratórias correspondem a cerca de 12% dos óbitos em Portugal, sendo a terceira causa de morte atrás das doenças cardiovasculares e do cancro.
Apenas 7,9% dos doentes consideram que a sua asma está controlada
Ao longo dos últimos anos, tem-se insistido muito na necessidade de controlar a asma, passando-se a mensagem de que é perfeitamente possível (con)viver com a doença e ter uma boa qualidade de vida. Mas será que os doentes estão a atingir esse objectivo? A resposta é não.
De facto, apenas 7,9% dos doentes consideram que têm a asma controlada, como mostra um estudo realizado em 2006. Mais de 61% dos doentes entendem que a sua doença está mal controlada e 30,9% dizem que está parcialmente controlada.
Estes fracos resultados vão contra as expectativas geradas pelos programas lançados nesta área, tanto a nível nacional como internacional, pondo em causa a actual abordagem dos doentes asmáticos.
Afinal, o que estará a falhar? “Serão então os doentes que não cumprem as terapêuticas, para o que poderá contribuir a sua baixa expectativa de controlar a doença? Serão as terapêuticas instituídas que são inadequadas, já que a evidência científica diz que terapêuticas correctas levam ao controlo da asma na esmagadora maioria dos doentes?”, questiona o Observatório.
Factura com broncodilatadores e antiasmáticos aumentou 23%
Apesar deste aparente falhanço, as despesas com medicamentos para a asma não param de subir. Em apenas três anos (2003 – 2005), a factura com broncodilatadores e antiasmáticos aumentou 23%, sobretudo à conta dos doentes.
Em 2005, os utentes do Serviço Nacional de Saúde (SNS) pagaram do seu próprio bolso cerca 32% das despesas com medicamentos para a asma. Em 2003, haviam pago 30% (menos oito milhões e meio de euros).
Isto significa que, na prática, os doentes pagam cada vez mais pelos fármacos que usam, o que poderá ficar a dever-se a um aumento dos preços de venda ou à prescrição de medicamentos mais caros.
O salbutamol continua a liderar as vendas, embora os medicamentos que registaram uma maior subida, em termos de embalagens vendidas, tenham sido o formoterol e o brometo tiotrópio. A associação fluticasona + salmeterol subiu 48%.
O Observatório assinala o aumento da dispensa das associações broncodilatadores de longa acção – corticóide inalado como “um sinal positivo”, sugestivo de uma melhor adesão às normas terapêuticas, embora pergunte quantos doentes necessitariam destes fármacos e não os adquirem porque pura e simplesmente não têm dinheiro. No entanto, assinala, como um sinal negativo, o facto de a medicação de socorro ser a que mais embalagens vende.
O medicamento que mais despesa acarreta para o SNS é, de longe, o montelucast, que ocupa a 35ª posição no ranking dos 100 medicamentos que mais gastos implicam para o SNS.
Apesar do aumento do número de embalagens vendidas e dos custos com os fármacos, apenas são dispensadas cerca de 3 milhões de embalagens de broncodilatadores e antiasmáticos por ano. Tendo em conta prevalência de asma e de DPOC e as estimativas de doentes que necessitariam de fazer terapêutica continuada, o Observatório aponta para uma “clara situação de subtratamento”.
O Relatório termina dizendo que existem indicadores favoráveis que encorajam a seguir em frente, mas sem esquecer que as doenças respiratórias, designadamente a asma, são um problema mundial, e não apenas português, adivinhando-se um longo e difícil caminho pela frente.