O fogo pode ameaçar a sua saúde respiratória

O fogo não destrói apenas a floresta. Também pode destruir a sua saúde. Em particular os seus pulmões. 

Quando as temperaturas sobem, os incêndios florestais empestam o ar com fumo e cinzas, tornando-o praticamente irrespirável.

Para quem vive com árvores à volta, o sobressalto é constante. Quando o termómetro ultrapassa os 30 graus Celsius, o olhar percorre as matas, à cata de um sinal de alarme. Na maior parte das vezes, não é nada. Mas uma vez por outra, a coluna de fumo não engana. ~

“Há algumas horas, vi um homem suspeito a andar por ali. Chegou numa motorizada e andou ali algum tempo. Não sei o que andava a fazer”, conta uma habitante de uma zona afectada.

Há três anos, um incêndio que deflagrou nesta mesma zona terá tido origem criminosa. Os culpados nunca foram apanhados. Mas esses são outros quinhentos.

Ouve-se o som estridente do carro dos bombeiros. Mesmo longe dos terrenos onde lavra, apesar do combate sem quartel dos soldados da paz, o fogo estende as suas garras malfazejas a gente saudável e mais ou menos doente, sem distinção. Dentro de suas próprias casas, novos e velhos não escapam. O ar tresanda, subitamente contaminado. O cheiro invade os lares, esgueirando-se por entre as frestas. Nada parece a salvo.  

Fogo: um mau prenúncio

Para um asmático 

Para o Sr. Alberto, que sofre de asma desde os cinco anos de idade, este incêndio ganha outros contornos. Está preocupado com as matas, com certeza, mas, neste preciso momento, é a sua saúde que mais o preocupa.

Em 38 anos de vida, não é a primeira vez que se depara com um cenário destes. Morando numa aldeia cercada de floresta por todos os lados (como uma ilha está cercada de água por todos os lados), sabe que o fumo não é bom prenúncio para um asmático.

“Quando era novo”, conta, “tive uma crise durante um fogo que andou perto dos meus terrenos. Foi horrível”.

Na altura, não foi o único a ter problemas. Dois bombeiros acabaram no hospital com falta de ar. Não sabe se por coincidência ou não, mas ambos sofrem, agora, de doenças respiratórias. Um tem asma e outro tem doença pulmonar obstrutiva crónica. Mas é claro que, sendo ex-fumadores, não será fácil determinar a origem das suas maleitas.

No seu caso, a asma surgiu na infância e tem-no acompanhado fielmente. Até de mais. Embora viva no campo, longe da poluição infecta das grandes urbes, o que dizem ser um factor protector, não escapou à sina, como costuma dizer.

Destino ou não, quis um novo incêndio pô-lo novamente a contas com a sua asma, que parecia adormecida mercê dos medicamentos que lhe receitara “o senhor doutor”. Mas, desta feita, sabia exactamente o que tinha de fazer. Não queria voltar a visitar o serviço de urgência tão cedo. Além do mais, ficava tão longe que não dava jeito nenhum… 

Procurando manter-se calmo, fechou portas e janelas. Da outra vez que um incêndio visitou o lugarejo, tinha as janelas abertas e o fumo parecia entranhar-se nas paredes. O Sr. Alberto garante que, dias depois de findo, o cheiro permanecia, como se tivesse chegado para ficar. Hoje, sabe que fez mal em manter tudo aberto.

Procurando manter-se calmo, fechou portas e janelas com cuidado. Tinha comprado um ar condicionado depois do malogrado episódio e não hesitou em ligá-lo, optando por fazer recircular o ar. Foi ver quantas garrafa de água tinha na despensa. Uns cinco litros. A medicação estava ali à mão, se sentisse necessidade de a utilizar.

Telefonou ao irmão, que morava ali ao lado, e aconselhou-o a levar para ali o sobrinho, com apenas dois anos e asmático, e o pai, com 80, doente cardíaco. Pensou que seria mais seguro para eles. No entanto, face ao fumo que grassava lá fora, aconselhou-os a taparem bem o nariz e a boca com um pano molhado.

“Não, não, as máscaras para o pó não servem, deixam passar o fumo na mesma. Ah! E traz a medicação do bebé!”, alertou.

Os bombeiros levaram mais de três horas a combater o fogo. Por vezes, parecia fora de controlo, mas, finalmente, foi circunscrito. Seguir-se-ia o habitual rescaldo. Quanto à família do Sr. Alberto, estava segura. Graças às medidas de precaução que tomou a tempo e horas, o fumo não lhe invadiu a moradia, como da outra vez. Sentia-se bem e não havia sido sequer necessário recorrer aos fármacos.

Outros não tiveram a mesma sorte. Ali perto, um morador mais afoito, que resolveu regar tudo à sua volta, não fosse o fogo visitá-lo, começou a queixar-se cada vez mais de falta de ar, dor no peito, dor de cabeça e até tonturas. Tossia de forma persistente, o que assustou a mulher. Com o incêndio praticamente apagado e o fumo a dissipar-se, pegou no telefone e ligou ao Sr. Alberto.

“Estou! Vizinho? O meu marido não está muito bem. Acho melhor ir com ele para o hospital!”

Solícito, o herói desta história lá pegou no carro, foi buscar o vizinho e rumou ao hospital, a alguns quilómetros de distância. Felizmente, não tinha problema algum, mas não se safou de fazer a viagem. O vizinho já está em casa e goza de boa saúde. Foi só o susto, mas serviu para aprender a lição.   

Há um incêndio na sua área?

O que fazer?

Como se proteger? 

– Permaneça em casa. Mantenha as janelas, as portas e tampas das lareiras fechadas, especialmente se lhe cheirar a fumo ou sentir os olhos e a garganta irritada. 

– Se tem sistemas de purificação de ar, deve utilizá-los. Se tem ar condicionado, deve colocar a opção de recirculação de ar, tendo o cuidado de verificar se os filtros estão limpos.

– Se a temperatura está muito elevada dentro de casa ou não tem ar condicionado, recomenda-se que procure outro abrigo. 

– Não deixe as crianças a brincar na rua e não pratique desporto ao ar livre. 

– Tenha em atenção as crianças com menos de três anos de idade. Como a sua respiração é mais rápida, trocam duas vezes mais volume de ar do que os adultos. 

– Se estiver no carro e tiver de atravessar uma zona com muito fumo, ligue o ar condicionado na opção de recirculação interna. 

– Se precisar de ir para uma zona com fumo, coloque um pano molhado sobre a boca e o nariz, de modo a evitar a inalação de partículas. 

– Se permanecer em casa, não fume, não acenda velas, nem qualquer outro aparelho que funcione a gás ou a lenha, de modo a manter o nível de oxigénio dentro de casa o mais elevado possível. 

– Perante uma atmosfera com fumo, respire devagar, descontraia-se e não entre em pânico. 

– Se for doente respiratório ou cardíaco, tenha à mão a medicação de socorro. 

– Se tiver ou mantiver as queixas (tosse intensa, falta de ar, peso no peito, tonturas e dores de cabeça), deve recorrer ao médico ou ao serviço de urgência mais próximo.   

Fonte: Direcção-Geral da Saúde/ Ministério da Saúde